ANOITECER
Raimundo Correia
Esbraseia o Ocidente na agonia
O Sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de oiro e de púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
Delineiam-se, além, da serrania
Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...
Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...
A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
Análise do poema
O poema acima está inserido cronologicamente e caracteristicamente no estilo de época parnasianista. Analisando - o com certo conhecimento do estilo, podemos observar no mesmo diversas características típicas de poemas do estilo.
O poema do estilo parnasianista tem como uma de suas características a descrição de algo (um objeto, um acontecimento, um fenômeno da natureza, uma paisagem, etc.), e no presente poema podemos facilmente observar essa característica na medida em que o poeta descreve (sempre de forma poética) o anoitecer de um dia. Também podemos observar no poema um recurso poético extremante popular e utilizado por poetas deste estilo, a inversão de frases, colocando o sujeito da oração no fim da mesma ao invés de posicioná-lo no início, como seria de costume. Note essa característica nos versos:
“Esbraseia o Ocidente na agonia
O Sol (...)”
Onde o poeta poderia ter dito “O Sol esbraseia o Ocidente na agonia”, diz, “Esbraseia o Ocidente na agonia O Sol”, esse é um recurso que torna a frase mais bela e rica poeticamente, enriquecendo também o poema. Também nota-se que Raimundo Correia não se preocupou tanto com as rimas ricas típicas dos parnasianistas: Agonia/dia, serrania/melancolia são todos substantivos, logo pertencem à mesma classe gramatical, caracterizando assim as ditas rimas pobres, condenadas pelos poetas parnasianos. O mesmo ocorre com flutua/recua, esmaece/anoitece, destacados/raiados, e com aureolados/derramados, todos são verbos. Também se pode observar o emprego de palavras com terminações que dão rimas fáceis de serem feitas, existem muitas palavras que terminam com -ar, -er, ou -ir; e -ão por exemplo, O que, em teoria, também empobreceria o poema, segundo diria a você um poeta parnasiano.
GRUPO: Samuel Siqueira, Jéssica Klein, Patrícia Mafort